“Escolho lugares para pousar os pés entre os livros espalhados no chão. Olho para o relógio do microondas e são 03:17. No fim do momento em que olho para o relógio, o sete muda para oito e volto a olhar, porque me parece que talvez os minutos tenham começado a demorar menos do que um minuto. O tempo fica parado: 03:18. Sento-me aqui, à frente do computador, e escrevo palavras. Há vezes em que olho para estas palavras escritas como se estivesse diante da janela um ciclone que destruísse os prédios, os carros estacionados e as árvores. Agora é um dos momentos. Cada frase, exterior a mim, surge neste ecrã de luz para dizer-me aquilo que não sei. Escuto-as e, se for preciso, paro-me a olhá-las. As palavras são bonitas antes do seu significado. Depois de significarem, as palavras são como as pessoas, Podem ser tudo ao mesmo tempo. Todas as palavras podem ser tudo ao mesmo tempo.”
Um mundo que não existe, in Abraço (2011). Lisboa: Quetzal
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