“Há várias maneiras possíveis de organizar e ordenar uma antologia, o que, evidentemente, se aplica também a uma antologia de poesia de amor. Pode, por exemplo, seguir-se um critério cronológico, por autores ou por épocas dos poemas; pode seguir-se um critério histórico e estilístico, ordenando-se os textos correspondentemente por épocas e por escolas; pode seguir-se um critério temático, surpreendendo as várias fases da relação amorosa, do avistamento e do enamoramento até à separação ou à morte, passando pela instância erótica e outras situações. (...)
in Introdução de 366 Poemas que Falam de Amor, escolhidos por Vasco Graça Moura, editora Quetzal (4.ª ed. 2019)
Soneto do Cativo
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;
o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;
se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;
não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!
David Mourão-Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário